Em reportagem no Programa Fantástico da Rede Globo (Dia 17.08.97) este tema foi abordado. Numa tentativa de afirmar que a reencarnação era o elo perdido do cristianismo uma autora Norte Americana falou sobre sua tese aparentemente baseada na Bíblia de que João Batista era uma reencarnação de Elias. Emoções à parte, a verdade é que as pessoas estão recorrendo à esta doutrina na tentativa de resolver questões básicas da vida.
A idéia de que o homem reencarna surge na necessidade que o ser humano tem de explicar a origem da vida; o que ocorre depois da morte; e creio eu, para explicar o enigma do sofrimento humano em nosso planeta.
Temos assistido quase inertes a uma invasão de idéias oriundas do Oriente, especialmente aquelas que tentam expor a origem e o destino do homem. A reencarnação é um exemplo claro disto e tem sido tema de livros, debates televisivos, e ocupado espaço destacado nas conversas entre amigos no dia-a-dia. Reencarnacionistas afirmam que “reencarnação é o movimento consecutivo da alma de uma vida corporal para outra com o objetivo de trabalhar seu caminho de volta ao lar original, à unidade com o universo.” 1
O assunto é tão importante que um autor chega a dizer que o abandono da doutrina da reencarnação é um dos grandes equívocos do pensamento humano... e “larga parte das mazelas que assolam a civilização moderna se deve ao desconhecimento desta idéia tão simples e de tão importantes conseqüências morais para todo ser humano.” 2
O maior problema é que se usam personagens Bíblicos para reafirmar este tipo de doutrina ou tese. Certos textos bíblicos parecem apontar nesta direção; entre eles: Lucas 1:17, Mateus 11:13 e 14, Mateus 17:11-13. Neles se diz que João Batista viria “no espírito e poder de Elias”, “Elias já veio”, “Este é Elias”. Nestes versos onde Jesus parece identificar a pessoa de Elias com João, ou João Batista com uma reencarnação do profeta Elias nós deveríamos entender João não como sendo o Elias reencarnado, mas alguém que viria para cumprir uma missão semelhante à de Elias. Em Mateus 11:14 quando se diz: “Este é Elias”, referindo-se a João, Jesus está lançando mão de uma metáfora, como em outras ocasiões, quando por exemplo Ele se declarou como sendo a “Porta” ou quando estava na Ceia, tomando o pão disse: “Isto é meu corpo”. A Bíblia está repleta de metáforas que identificam a obra de uma pessoa com ela própria. Ela diz que Jesus é a “Pedra” (I Coríntios 10:4), mas toda pessoa de sã consciência acredita que Ele não é uma pedra literal, mas esta é uma linguagem figurada que expressa Sua Obra como a base da igreja. De igual modo as expressões que ligam João Batista a Elias tem por objetivo enfatizar a missão de ambos que era semelhante. Os dois tinham como alvo levar o povo ao arrependimento e conversão bem como reafirmar a verdadeira adoração. “E converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor seu Deus”(Lucas 1:16)
Desta forma, a ênfase está na semelhança da mensagem e no propósito da missão do que na pessoa. Evidências internas nos mostram que não havia preocupação dos autores bíblicos em identificar a pessoa de João Batista com Elias. Por exemplo, em João 10:41 lemos que “... João não fez sinal algum...” Dentro do contexto do quarto evangelho quer dizer que ele não fez milagres. Isto é verdade quando notamos que Elias ressuscitou mortos, fez descer fogo do céu, e outros sinais que não foram realizados por João Batista. No mesmo evangelho diante da delegação que veio de Jerusalém para interrogá-lo, ele disse: “Não sou Elias” (João 1:21).Existem 2 razões básicas para a resposta que inicialmente parece contrariar os outros evangelhos (os sinóticos). Em primeira instância ele diz que não é Elias porque no evangelho de João “o tema essencial que justifica a presença do Batista, é sem dúvida, sua função com o complexo de testemunhas da teologia Joanina... O Batista é subordinado ao desejo do Evangelista de retratá-lo como uma testemunha ideal de Cristo.” 3
Em segundo lugar, para desmerecer a idéia popular entre os judeus de que Elias voltaria. “Era popularmente crido que Elias deveria aparecer em pessoa para proclamar a vinda do Messias.” 4
Na verdade, concluímos que “ele não proclama ser uma reencarnação do antigo profeta Elias (João 1:21), mas enfatizou sua missão como sendo a “voz” ou a “mensagem”, para anunciar iminente aparecimento do Messias. Ele respondeu nas palavras do profeta Isaías. “Eu sou a voz do que clama no deserto. Endireitai o caminho do Senhor.” 5
Conclusão
Depois destas considerações chegamos a seguinte conclusão: João Batista não foi o Elias reencarnado, por várias razões, entre elas citaríamos objetivamente:
- A afirmação de Jesus em Mateus 11:11 “... entre os nascidos de mulher, não surgiu outro maior do que João Batista.” Ele não disse reencarnado, mas nascido.
- Crer na reencarnação seria negar que o homem é salvo pela graça (Efésios 2:8) e seus pecados purificados por Jesus através de seu sangue (I João 1:9). A mais forte razão para afirmamos que o homem não precisa reencarnar-se para ser salvo está nas palavras do próprio João Batista: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.”(João 1:29)
- O último e o mais forte de todos os argumentos está no fato de que Elias, segundo a Bíblia, nunca morreu, e portanto não estava disponível para a reencarnação (II Reis 2:11)
Estes argumentos bíblicos, concluem que João, na verdade, foi um continuador da obra de restauração iniciada por Elias, e que o Espírito e o poder de Deus estavam sobre ele para preparar o caminho para o Messias. Em nenhum momento a Bíblia sugere ou aprova a teoria da reencarnação com qualquer de seus personagens. Estas idéias são preconcebidas e surgem de um estudo desatento e superficial do texto bíblico com objetivos tendenciosos.
Referências
- John Snyder - Reencarnação ou Ressurreição? (São Paulo - Edições Vida Nova p.18)
- Hermínio C. Miranda - Reencarnação e Imortalidade (Federação Espírita Brasileira, Rio de Janeiro, 1975 p.29)
- Amin Rodor - John Baptist in the Fouth Gospel (Andrews University, Monografia não publicada p.15)
- Francis Nichol, ed., The Seventh Day Adventist Bible Commentary Vol. 5 p.906
- Hans La Rondelle - Chariots of Salvation (Review and Herald Publishing Association p.176)
Autor:
Pr. Moisés Mattos
Diretor de Ministério Pessoal e Escola Sabatina da Associação Sul Riograndense da IASD
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